A resposta inicial é não. Raramente a dor lombar isolada, sem os sinais de alerta (“red flags”) mencionados num outro post aqui no site, necessita de tratamento cirúrgico. Dificilmente a identificação do sítio gerador de dor é possível e muitas vezes as dores estão associadas a quadros ansiosos e depressivos. Como costumo conversar com meus pacientes, não de trata depressão com parafusos na coluna…

O resultado prático disso é uma taxa de sucesso baixa para cirurgias onde o sintoma principal é de dor nas costas sem irradiação e sem a clara identificação de uma origem da dor. Significa operar sem ter a certeza que o local operado é o causador dos sintomas!!!!

Como toda boa regra, há as exceções…

Usualmente as cirurgias de coluna estão indicadas para doenças que acometem o sistema neurológico, causando predomínio de dores irradiadas para os membros ( braço(s) para a coluna cervical e perna(s) para a coluna lombar. Isto acontece porque quando temos as irradiações por compressão de nervos, conseguimos identificar com maior clareza a origem da dor. Nesta situação, as dores passam a ser específicas, coma  possibilidade de correção do problema.

Por exemplo, quando o paciente se queixa de uma dor irradiada para a nádega direita, parte posterior da coxa e panturrilha e chega até o quarto e quinto dedos e sola do pé, conseguimos identificar um problema na raiz Sacral 1 (ou S1). Se as alterações de força e reflexos forem compatíveis e a Ressonância magnética encontrar uma hérnia de disco L5S1 direita comprimindo a raiz S1 direita, podemos afirmar que a dor está sendo causada pela hérnia de disco.  Chamamos isso de correlação clinico-diagnóstica. A dor tem origem específica e definida e cabe ao médico explicar ao paciente as possibilidades de tratamento conservador  ( quando possível), história natural e as possibilidades cirúrgicas, técnicas, riscos e benefícios e tomar uma decisão compartilhada com o paciente.

Outra boa indicação de cirurgia é a presença de um local específico na coluna com sinais de instabilidade, como um escorregamento  ( listese) com processo inflamatório ou um nível isolado com grande edema ósseo ( MODIC tipo 1). Nestes cenários, a dor lombar deixa de ser inespecífica e passa a ter uma origem definida. Deixa de ser somente um sintoma ( “dor nas costas”) para ser uma doença localizada.

Se tirarmos as situações de indicação absoluta de cirurgia ( síndrome da cauda equina, fraturas com lesão neurológica, tumores e escolioses graves), a grande maioria dos casos pode e deve ser discutida amplamente com seu cirurgião. Fatores como doenças pre-existentes, tipo de atividade profissional, expectativas de resultado, tamanho e risco das cirurgias influenciam o processo decisório e não existe um protocolo pronto e definido para a decisão de operar. O mesmo problema pode ser melhor tratado com cirurgia num paciente e sem cirurgia em outro, dependendo de variáveis mencionadas.

Por isso, escolher o profissional  e ter com ele uma relação de confiança é fundamental para tomar a melhor decisão de tratamento. Ao profissional, cabe avaliar todas as variáveis apresentadas e definir uma linha clara de tratamento, objetivos, possibilidades e alinhar corretamente as expectativas do paciente com a realidade do que pode ser obtido com a cirurgia. Isto diminui muito a chance de frustrações com a cirurgia.

 

Em relação às técnicas de cirurgias, enquanto escrevo provavelmente uma nova técnica está sendo desenvolvida… o desenvolvimento é constante, mas os princípios pouco mudam. Menor agressão possível, menor taxa de complicações. As técnicas utilizadas mudam dependendo dos recursos disponíveis nos hospitais, com a experiência e preferência do cirurgião.

Gastamos uma quantidade grande de recursos financeiros e de tempo/dedicação para oferecer o melhor aos pacientes, através de cursos no exterior, visitas a centros de excelência nos melhores hospitais/colegas no mundo e estamos constantemente buscando o que é melhor e pode ser usado no Brasil. Essa é uma evolução necessária e faz parte da nossa missão como médicos.