Quem nunca teve uma crise de dor nas costas ( “travamento”) até os 50 anos de idade está melhor que a média da população. Uma crise de dor que o impede de trabalhar ou fazer sua atividade principal por pelo menos 1 dia acontece em cerca de 80% da população até esta idade!

Eu já tive e me lembro do que passou pela minha cabeça na época. A dor foi tão forte que me impedia de andar, ficar de pé, sentado e mesmo deitado, ao me virar, parecia que tinha uma faca entre a lombar e as nádegas. Minha crise aconteceu durante um jogo de “handball” numa competição universitária e eu estava no quarto ano da faculdade de medicina da USP, com 21 anos de idade. Tive que sair do jogo e fui direto ao pronto-socorro. Ninguém me orientou na época e meu medo foi de nunca mais conseguir jogar e também de não conseguir mais fazer nada direito. Doía tanto que fiquei com medo de piorar e não consegui andar mais… Felizmente,após três semanas estava novamente nas quadras…

 

Normalmente a percepção dos pacientes em relação a gravidade dos problemas na colunaestá relacionado à intensidade da dor. Isto não é o correto!!!

Embora cause um sofrimento e medo enormes, a intensidade da dor não significa maior gravidade do problema, pois se tratade um sintoma não mensurável e de variação muito grande entre os pacientes.

A gravidade das hérnias de disco e das crises de dor nas costas estão associadas a sinais de compressão das raízes nervosas. Estes sintomas são alterações de força e sensibilidade nas pernas e alteração no controle de urina e fezes.

Após passar em avaliação médica e constatada uma hérnia de disco ou alguma compressão das raízes nervosas, o paciente deve ficar atento a uma piora e mudança nos sintomas e entrar em contato com a equipe médica. Para ajudá-lo a entender a importância e gravidade dos sintomas, em escala de gravidade, vamos explicar a seguir o que é urgente e o que fazer nestas situações:

URGÊNCIA (IDA IMEDIATA AO PRONTO ATENDIMENTO):

Quando de trata de dor lombar e hérnia de disco, temos dois cenários de urgência no tratamento, devendo o paciente se encaminhar imediatamente ao pronto-socorro onde há cobertura para cirurgia pelo plano de saúde:

1. Alteração de sensibilidade perineal ( perto do ânus e vagina/pênis) e/ou alteração no controle de urina e fezes (no caso da urina, retenção ou perda involuntária/ urgência para urinar). Muitas vezes acompanhada de dores irradiadas para a parte posterior de coxa, panturrilhas e pé e perda de força.
Este quadro clínico é uma síndrome da cauda equina ( compressão grave das raízes nervosas na região lombar) e pede tratamento cirúrgico URGENTE, devendo o paciente se direcionar ao pronto-socorro e entrar em contato com a equipe médica que o acompanha. Deve ser realizada Ressonância magnética de coluna lombossacra de urgência e, se constatada a síndrome da cauda equina, realizada a cirurgia de descompressão o mais rápido possível.

Trata-se de urgência médica porque o atraso no diagnóstico e cirurgia acima de 48 horas após o início dos sintomas leva a riscos enormes de perda definitiva de controle de urina e fezes.

2. Dor lombar intensa associada a febre ( temperatura acima de 37,8 graus) e dores irradiadas para pernas.
Este quadro pode estar relacionado a uma infecção na coluna e canal vertebral e pede diagnóstico e tratamento em caráter de urgência ( cirurgia de drenagem e descompressão da coluna lombar)

 

Necessidade de contato com equipe médica, sem urgência de ida ao pronto-socorro ( necessidade deve ser avaliada pelo médico)

Perda de força progressiva na(s) perna(s), associada a dor irradiada paraa(s) perna(s) e alterações de sensibilidade nas pernas, com controle vesical normal e ausência de alterações de sensibilidade perineal.

Se após a consulta houver uma piora da dor irradiada associada a perda de força importante na(s) perna(s), há sinais de sofrimento das raízes acometidas e o paciente deve contactar seu médico o mais rápido possível. Ao contrário da síndrome da cauda equina, não se trata necessariamente de urgência para cirurgia, mas pode indicar um tratamento cirúrgico mais rápido dependendo da situação.…

Piora da dor, sem déficit de força na(s) perna(s), sem alteração de controle de urina e fezes, sem alteração da sensibilidade perineal e sem febre.
A piora da dor representa um sofrimento importante, mas não uma urgência médica que necessite de indicação urgente de cirurgia. Neste caso, pode tomar as medicações prescritas ( sabendo que na fase aguda nem sempre aliviam a dor de maneira satisfatória) e entrar em contato comaequipe médica, sem urgência, para mudança de medicações e/ou mudança de conduta.

A equipe médica, junto com o paciente, pode escolher a melhor forma de conduzir o caso. São opções extras : Internação para controle de dor com analgésicos intravenosos, infiltração ou mesmo a cirurgia para o controle de dor.